Totaltorta foi a primeira exposição individual de Luiza Zelada, realizada na Galeria de Arte Alcindo Moreira Filho no
Instituto de Artes da Unesp em São Paulo.
A exposição aconteceu entre 26/2 e 8/3 de 2018
Fotografias por Gregório Zelada e Oriundo.
Vernissage por Øriundo
As invenções gráficas de Luiza Zelada
por Augusto Sampaio
Aponto como o primeiro vetor presente nas estampas aqui apresentadas, e denominadas pela artista como monotipias, o decalque. Mais precisamente: o decalque conjugado com as técnicas gráficas.
Assim, a construção do duplo (a estampa) se dá pelo contato físico com o objeto referente e não pela dinâmica percepção/representação.
Os sinais gráficos constituintes destas imagens (linhas, tramas, planos, relevos, cores) não espelham ações de corte, nem de encavo (tão próprios da gravura), nem tampouco encontramos a presença residual de gestos autorais (reconhecida nos materiais empreendidos na elaboração dos desenhos) ou o toque característico das pinturas.
Há certa reserva no grau interpretativo: o decalque não representa, mas apresenta.
Outro vetor, aqui apresentado não por hierarquia de valor, mas apenas pela exigência de uma sucessão destas considerações: os temas, os assuntos ou os motivos.
Reconheço nestes trabalhos um arco que se estende do cativante ao afetivo.
As primeiras realizações evidenciam a fascinante complexidade formal que a natureza das plantas nos proporciona: linhas de múltiplas espessuras e configurações; micro tramas; redes simétricas, mas sutilmente irregulares; contornos com delicadas irradiações.
Após a investigação de algumas derivações de temas naturais, a artista se concentra na impressão de suas roupas íntimas.
A intimidade se dilata até a inclusão de absorventes e preservativos no rol de objetos geradores de estampas.
E a essa mesma dinâmica é integrada, recentemente, uma relíquia afetiva: uma blusa antiga de sua família, com finos e delicados bordados florais.
Agora, o vetor que delineia a dinâmica na oficina de gravura. Como as considerações anteriores, espelha apenas um esforço de estabelecer interconexões entre a apreciação textual e as obras desta exposição.
As técnicas gráficas potencializam, por excelência, a repetição.
Para Luiza, a repetição engendra a variação.
Ela instaura uma situação acolhedora dos improvisos, das variantes, das surpresas, descobertas e invenções guiadas, predominantemente, por seu olhar perspicaz.
Linhas que se desfiam nas bordas de uma folha vegetal deflagram novas escolhas e outras construções. A impressão de um objeto é sucedida pela impressão da área correspondente ao seu fundo. Uma impressão da imagem residual de um motivo é combinada com outra (ora justaposta, ora sobreposta) e assim por diante.
Ela também coordena seu temperamento dinâmico à rapidez e à agilidade características da elaboração de uma monotipia.
E os vetores se multiplicam: linhas de força que a jovem artista combina, entrelaça, tece e trama.
Sua vivência se irradia para o espaço educativo: amplia-se. Compartilhada com o outro, torna-se convivência.
Ela reconhece a potência transformadora latente numa oficina de arte e investe na realização de cursos, aulas abertas e outras dinâmicas em instituições culturais que oferecem espaços para a educação não-formal.
Afinal, assinala a artista pelas suas proposições: a arte é para todos!
Augusto Sampaio
verão de 2019